quinta-feira, 1 de março de 2012

Reflexões sobre a amamentação e outras peripécias

De cara já vou pedir desculpas às mães que se sentirem ofendidas com os comentários, já que criticar como uma mãe alimenta seu filho pode ser um sacrilégio. Temos muitos afazeres, trabalhamos fora, não produzimos nosso próprio alimento e nesse contexto é quase impossível nos dedicarmos àquilo que seria a alimentação ideal de uma criança. Tem horas que, contanto que eles comam, pode ser absolutamente qualquer coisa. Porém, socialmente existem tantos preconceitos e paradigmas quanto a maneira como devemos proceder, consumimos valores tão deturpados, que nesse panorama acredito que algumas reflexões e alfinetadas são bem vindas.
De uma maneira geral, existe uma crença em nossa sociedade de que uma boa mãe deve amamentar o seu filho até os seis meses de idade – pelo menos é o que prega todos os sites de alimentos infantis e muitos pediatras.  Se você fica muito abaixo da marca, ou nunca amamentou, vai ser reprovada e viver em estado de culpa. Já se você passa dos seis meses, ulálá, o caldo de críticas e comentários engrossa a cada mês de prorrogação...

O duro é quando a mãe, a do segundo tempo, vira escárnio de psicologia barata, tipo síndrome de “mãe-superprotetora”, “mãe-dominadora”, “mãe-carente” e até mesmo “mãe-pervertida”...

Porque será que ver um “bebezão” ainda ser amamentado no peito gera tanta comoção. Pra que a gente tem peito mesmo? Com certeza eles não foram feitos só para colocar silicone...

Aliás, será que nesse mundo de “big brothers” e “playboys”, onde peito é commodity sexual, se o leite saísse pelos cotovelos seria mais fácil suportar a visão de uma criança de dois anos amamentando?

O pior que incomoda tanto que a minha própria mãe outro dia me perguntou se o meu leite, a essas alturas, já não estava azedo...

E porque será que escravizar uma vaca e tirar o leite que deveria ser só do bezerrinho pode? Acho que qualquer pessoa com o mínimo de sensibilidade ficaria horrorizada com o que se passa em uma fazenda de produção de leite industrial. Fora que o que chega até o consumidor já nem mais leite é, está mais para uma poção branca contendo hormônio sintético (BGH, para aumentar a produção de leite), antibióticos (as vacas encarceiradas, privadas de sua alimentação natural e submetidas a extração de leite incessantes desenvolvem vários tipos de doenças) e pesticidas (alimentam-se de razão transgênica)...

Os humanos são os únicos mamíferos que se alimentam de leite após a infância, apesar do nosso corpo se tornar intolerante a lactose. Será que eu desvendei a dor de estômago de alguém ai? E as alergias?

Assim cabe as vacas, as cabras e as ovelhas o martírio de alimentar 7 bilhões humanos esfomeados. Detalhe, esses animais em uma fazenda de escala industrial perdem o direito de alimentar seus próprios filhotes, que são retirados do contato com a mãe logo que nascem...

O pior de tudo isso, é que eu amoooooooooo leite e seus derivados, só que eu procura consumir de uma fazenda onde as vaquinhas ainda são tratadas com o mínimo de decência. Eu recomendaria conhecer a fazenda de onde o seu leite vem (quem consome leite fresco tem mais chances nessa empreitada). Ótima dica de passeio com as crianças... 

Recentemente, a top Gisele recebeu severas criticas no mundo da blogagem materna por dizer que “deveria haver uma lei mundial que obrigasse as mulheres a amamentar seus filhos por pelo menos seis meses”. Nossa, teve gente que ficou furiosa. Eu pessoalmente sou do tipo anárquica e contra lei disso e daquilo, mas sei ler, ouvir e entender  as entrelinhas, ela estava apenas dizendo que considera a amamentação extremamente importante...

O engraçado é que, na reunião de pais na escola da minha filha, já aconteceu de uma mãe reclamar porque não concordava com a política de permitir refrigerante apenas às sextas-feiras. Para uma mãe dessa, só a lei mesmo...

Ironicamente, nos EUA existem inúmeras leis pertinentes a amamentação, principalmente em relação a amamentar em lugares públicos. Vira é mexe rola noticia de fulaninha que teve que se retirar de um restaurante ou café por dar de mamar em público. Aí de um lado tem as “lactivistas”, que apóiam a amamentação pública, e do outro, as pudicas, que condenam...

Já me deparei com um blog de uma mãe americana que achava um absurdo o lançamento de uma boneca para amamentar. Boneca “indecente” segundo ela, já que incentiva a amamentação em público. Dar refrigerante e tang em público pode, leite materno não...

Adorei quando li a Anne Rammi, do blog Super Duper,  dizendo que “optou pela amamentação exclusiva e prolongada porque é muito mais prático amamentar no peito do que fazer mamadeira, enquanto bloga.” Dei muita risada, porque é isso mesmo, fica tudo mais prático. Isso sim é conveniência, e não água de coco engarrafada...

Vou confessar que quando era mais nova eu também achava “estranho” uma criança de dois ou três anos amamentando no peito. Estranho porque não é mais comum. Porém, é só olhar para a carinha do meu filho mamando que eu sei que é a coisa mais natural do mundo...

Também não sou a favor da mãe mártir não, longe disso. Mártir pra mim são as mães que trabalham 40 horas semanais e ganham um ou o luxo de dois salários mínimos e têm que desembolsar R$21 por uma lata de Nan, que dura 4 dias, porque o pediatra do postinho de saúde recomendou. Pediatra gente boa esse, hein...

Nan é alimento para astronauta e não para um bebezinho gerado aqui no planeta Terra...

Olha só os ingredientes: Lactose, concentrado protéico de soro de leite*, oleína de palma, leite desnatado, óleo de canola, óleo de palmiste, óleo de milho, sais minerais (citrato de cálcio, cloreto de potássio, cloreto de magnésio, citrato de sódio, sulfato ferroso, sulfato de zinco, sulfato de cobre, iodeto de potássio, sulfato de manganês, selenato de sódio), vitaminas (vitamina C, niacina, vitamina E, pantotenato de cálcio, vitamina A, vitamina B6, vitamina B1, vitamina D, vitamina B2, ácido fólico, vitamina K, biotina), óleo de peixe**, lecitina de soja, ácido graxo araquidônico, L-arginina, L-carnitina, nucleotídeos, taurina bitartarato de colina, inositol, L-histidina. Não Contém Glúten.
*fonte protéica
**óleo de peixe é fonte de ácido docosahexaenóico (DHA)

Incrível, não! O único porém é que foi feito por grandes máquinas, em uma grande fábrica, com vários ingredientes sintéticos e outros produzidos ou extraídos de maneira nada sustentável. E se um baratinha passar por ali e esquecer uma perninha? Um lugar desse não tem baratas, é detetizado mensalmente. Pior ainda...

“Mas a pediatra mandou, o meu bebê não estava ganhando peso”. Querida, o negócio é livre demanda. Se olhe no espelho, se você for mirradinha, o seu bebê provavelmente vai ser também. E os pediatras que me perdoem, mas ficar trancado em um quartinho branco o dia inteiro com um entra e sai de bebê chorando e mães neuróticas deve dar síndrome do qualquer coisa serve para fazer a fila andar...

Aliás, os dois pediatras do meu filho, que eu considero por diferentes motivos, me disseram para parar de amamentar quando  ele estava com 1 ano. “Esse leite já não serve mais para nada”, foi basicamente o que ambos disseram. Imaginem quantos pontos eles perderam no meu conceito. Mas eu insisti e quis saber, porque não? Não tiveram argumentos...

Também pudera, não existe argumento contra um produto com mais de 200 mil anos...

Pelo menos a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda o aleitamento materno até os dois anos...

O fato é que crianças amamentadas durante a infância ficam menos doentes, desenvolvem menos alergias. E existem vários estudos que relacionam a amamentação à inteligência emocional de uma criança...

E porque dar mais dinheiro para essas corporações que vão fazer você acreditar em qualquer coisa para tirar o seu vintém? Porque todos os bebês do mundo têm que ser alimentados por três grandes empresas: Nestlé, que comprou a Gerber americana (Nan, Nidex, Nestogen, Ninho), Danone (Aptamil) e Mead Johnson (Enfamil e Sustagen)?  

O leite materno é tão perfeito que suas características mudam com o passar do tempo para atender as necessidades da criança nas determinadas fases do seu crescimento. Não existe vitamina, vacina, ou qualquer leite em pó que substitua essa preciosidade. Ele não só enche a barriga do seu filho e fortalece o sistema imunológico, mas alimenta a alma também...

Detalhe importante: é de graça...

É lógico que nessa história toda não adianta você estar anêmica, substituir água por  coca-cola e tomar Xenical, a gente tem é que se cuidar, porque absolutamente tudo o que ingerimos passa para o leite...

Dizem as más línguas que o meu filhinho adora um chopp, já que a mãe curte uma cervejinha...

Pra mim, nessa história toda, os únicos argumentos válidos para deixar de amamentar são: voltar a trabalhar tempo integral, o bebê desencanou ou encheu o saco e pronto...  

E para finalizar uma história pra lá de “hippie e chic”: Eu estava em um “drum circle” na cidadezinha americana de Woodstock e o meu filho que tinha acabado de completar um ano e queria o “tetê” dele. Avistei um banco embaixo de uma árvore e fui direto pra lá. Sentei-me ao lado de uma senhora com feições indígenas. Logo que ele abocanhou o peito ela se virou para mim e disse: “good, you are teaching this kid how to love”. (muito bem, você está ensinando essa criança a amar). Sem mais palavras...

Quer saber mais sobre as vantagens da amamentação:

Fontes:

8 comentários:

  1. Parabéns! A cada texto seu eu fico mais feliz por te encontrado esse blog. Tenho uma filosofia parecida com a sua. Participo de um grupo de mamães no FB que a 80% não amamentam mais pelos os motivos mais sordidos e fúteis possíveis! Meu bebê (Murilo) está com 6 meses e, nem penso em parar de amamentá-lo. Para mim Néstle não é estatus! Bjos e continue...

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    1. Lu, obrigada pelo comentário. Nesse momento eu estou lendo o livro “As mulheres que correm com os lobos”, que super recomendo. Nele, a autora, Clarissa Pinkola Estés, desvenda vários arquétipos da “mulher selvagem” que existe em todas nós, apesar de, nas sociedades atuais, os nossos canais com o nosso “self”, instinto e intuição estarem completamente bloqueados. No capítulo intitulado “Procurando a Nossa Turma” ela diz: “... a natureza selvagem, quando forçada a enfrentar circunstâncias pouco propícias, luta instintivamente para continuar viva apesar de tudo. Ela sabe agüentar e resistir, às vezes com elegância, às vezes sem muito estilo, mas resistindo assim mesmo. Graças a Deus por esse aspecto. Para a mulher selvagem, a continuidade é uma das suas maiores forças.” E logo em seguida ela acrescenta: “...quando a vibração específica da alma de um indivíduo, que tem tanto uma identidade instintiva quanto uma espiritual, é cercada de aceitação e reconhecimento psíquico, a pessoa sente a vida e a força como nunca sentiu antes. Descobrir qual é a sua família psíquica (a sua turma) proporciona ao indivíduo a vitalidade e a sensação de pertencer a um todo.” Interprete como quiser . E pode deixar que eu não respondo a todos os comentários assim não, é que o seu veio bem no meio da minha leitura, hahaha bj

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  2. Eu já disse o quanto gosto de te ler???? Pois é!!! AMO!! E me identifico muito com tudo o que escreve de maneira única e magistral. Aqui também uma bebê de 6 meses e uma mamãe que não abre mão de amamentar e que vem quebrando seus próprios paradigmas, já que eu também achava muito estranho um bebe grande mamando.
    beijos
    www.jeitinhos.blogspot.com

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    1. Oi Sabrina, sabe que quando eu comecei o meu blog em setembro de 2011, eu não tinha noção da blogsfera materna, álias eu nunca tinha sido leitora de blog nenhum, só me deparava com eles quando o resultado do Google me levava até um. Eu vinha escrevendo sobre as minhas percepções do mundo, da maternidade, até que uma amiga me disse porque vc não faz um blog? E foi o que fiz sem saber onde eu estava me metendo. E ai outra amiga me mostrou as comunidades no facebook como o motherblogers e afins para divulgar. E agora aqui estou eu, em um campinho minado de idéias, estilos de vidas diferentes e muito bate-papo. Não tenho vocação para relacionamentos online, aliás até mesmo as minhas amigas de carne e osso reclamam que eu sou meio relapsa com e-mails, face e afins... Mas estou aprendendo como um comentário, assim como o seu, que faz tudo valer mais a pena. Muito obrigada. Ju

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  3. Oi Ana Claudia, acabei de passar no seu blog e te conheci :). Adorei a história da mochila, seria tão legal se as crianças de hoje (ou a mães) se contentassem com a mesma mochila por seis anos, não. Pode sim colocar esse texto no seu blog, seria um prazer. Obrigada Ju. (ah, eu assino JM para MHCMC)

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  4. Que delícia de mensagem, que delícia de blog! Como demorei tanto pra chegar aqui?? Parabéns!
    bjs

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    1. Que bom que você chegou... volte mais vezes e obrigada por comentar. bjs Ju

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  5. Parabens, parabens, parabens, pelo seu blog, informaçao com fundamento e conhecimento. Sou mamae de primeira viagem, e minha pequena vai completar seis meses em dois dias, com amamentaçao exclusiva e nao penso em deixar tao cedo... E pensar que tive tantos problemas no começinho mas em nenhum momento pensei em desistir. Me sinto feliz e orgulhosa, confesso que nao é facil, cansa, mas quando eu vejo o quanto ela cresceu, o quanto ela é saudavel, vale a pena, se vale! E agora o mais curioso é que ela só quer saber do peito da mae, nao come a papinha de frutas, nao pega a mamadeira, só quer o peito..Vou começar com a papinha de verduras e tenho medo que ela tambem rejeite...Enfim, pouco a pouco e muita paciencia. Qualquer dica, conselho sao benvindos!!! Mais uma vez, parabéns! Voce acaba de ganhar uma fã e outra seguidora!!! Vanessa

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