quinta-feira, 8 de março de 2012

Meu presente para todas as mulheres do mundo

(Desculpa! Mas não é sorteio...)
Estou lendo um livro maravilhoso, um clássico, “Mulheres que correm com os lobos – mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem”, da Clarissa Pinkola Estés. Para mim, a descoberta desse livro é um caso típico do velho ditado “o professor aparece quando você estiver pronto”. Ele cruzou o meu caminho no início dos meus 20 anos, não dei bola, para só reaparecer agora. E é ele o presente que eu daria a todas as mulheres do mundo.
...

Da introdução:
A fauna silvestre e a Mulher Selvagem são espécies em risco de extinção...
...Observamos ao longo dos séculos, a redução do espaço e o esmagamento da natureza instintiva feminina...
...As terras espirituais da Mulher Selvagem, com seus refúgios destruídos e seus ciclos naturais transformados à força em ritmos artificiais para agradar aos outros...
...Não é por acaso que as regiões ainda intocadas do nosso planeta desaparecem à medida que morre a compreensão da nossa própria natureza selvagem...
...Os lobos saudáveis e as mulheres saudáveis têm certas características psíquicas em comum: percepção aguçada, espírito brincalhão e uma e uma elevada capacidade para a devoção. Os lobos e as mulheres são gregários por natureza, curiosos, dotados de grande resistência e força. São profundamente intuitivos e têm grande preocupação para com seus filhotes, seu parceiro e sua matilha. Têm experiência para se adaptar a circunstâncias em constante mutação. Têm uma determinação feroz e extrema coragem.” (...)
Alguns trechos (aqueles que eu risquei com um lápis embaixo enquanto lia) do capítulo do momento: 8 – A preservação do Self. Nele, Clarissa nos conta uma versão germânica da antiguíssima história “Os sapatinhos vermelhos”.  E depois, de maneira única (com o viés da psicologia junguiana), revela para nos leitoras verdades tão básicas que fica difícil não se emocionar.
(...) “Existe um padrão específico para a perda dos instintos. É essencial que estudemos esse modelo, que na realidade o decoremos, para que possamos proteger os tesouros das nossas naturezas básicas bem como os das nossas filhas...
...Temos de voltar a desenvolver o insight e a prudência. Temos de aprender a nos desviar. Para poder distinguir as opções corretas, temos de poder ver as erradas...
...A vida expressiva da mulher pode ser ameaçada, roubada ou seduzida a não ser que ela se mantenha fiel a sua alegria básica e ao seu valor selvagem, ou que os resgate.  Sem uma firme participação da natureza selvagem, a mulher definha e cai numa obsessão pelo que a faça se sentir melhor, pelo que a deixe em paz e por qualquer um que a ame...
...Quando esfomeada, a mulher aceita qualquer substituto que lhe seja oferecido, incluindo-se aqueles que não fazem nada por ela e os que são destrutivos e perigosos...
...Há sempre outras oportunidades para acertar, para moldar nossa vida do jeito que merecemos que ela seja. Não percam tempo amaldiçoando alguma derrota. O fracasso é um mestre mais eficaz que o sucesso. Ouçam, aprendam, insistam...
...Na história, sabemos que a menina perde os sapatos vermelhos criados por ela mesma, aqueles que a faziam sentir rica aos seu próprio modo. Ela era pobre, porém criativa... Não importa que sua vida seja imperfeita. Ela tem sua alegria. Ela irá evoluir...
... A alegria é a seiva da vida, o alimento do espírito e a vida da alma reunidos num só... É o tipo de emoção que a mulher sente ao descobrir que está grávida quando é isso que deseja, quando vê as pessoas que ama se divertindo, quando realizou alguma coisa que insistiu muito... Criou alquele algo, aquele alguém, a arte, a luta, o momento: a sua vida. Esse é o estado natural e instintivo da mulher. A Mulher Selvagem transparece nesse tipo de alegria...
... O desejo de facilitar a vida não é a armadilha, pois é natural que o ego tenha esse desejo. Ah, mas o preço. O preço é a armadilha... É o inicio da ´fome da alma´ para o espírito criativo.
...A psicologia junguiana tradicional salienta que a perda da alma ocorre especialmente na metade da vida, por volta dos 35 anos de idade, ou pouco depois...
...Existem muitas coisas que tentam nos forçar, nos arrastar, nos seduzir para longe dos sapatos feitos à mão, como quando dizemos: ´numa outra hora eu danço, planto, abraço, procuro, planejo, aprendo, faço as pazes... numa outra hora.´ Só armadilhas...
...Comporte-se; não crie confusão; não pense demais; não se superestime; não chame a atenção; seja mais uma cópia; seja simpática; aceite tudo, mesmo que não goste...
...Obedecer a um sistema de valores tão desprovido de vida provoca uma perda extrema de vínculo com a alma...
...Então, como todo animal em cativeiro, caímos numa tristeza que leva a um anseio obsessivo. Daí em diante corremos o risco de nos agarrar à primeira coisa que promete fazer com que voltemos a nos sentir vivas...
...Os instintos são algo difícil de definir, pois suas configurações são invisíveis... A Idéia de instinto pode ser valorizada como alguma coisa interna que quando mesclada com previsão e consciência, orienta os seres humanos no sentido de um comportamento integral. A mulher nasce com todos os instintos intactos...
...À medida que se vão perdendo os ciclos naturais, segue-se o vazio...
...A mulher cujos instintos estão prejudicados não tem escolha. Ela simplesmente fica impossibilitada de prosseguir... Seu instinto natural para a fuga ou para a luta é drasticamente reduzido ou mesmo extinto...
...O lúdico é instintivo. Sem o lúdico não há vida criativa. Quando ficamos estamos sentadas sem nos mexer, não há vida criativa. Quando falamos, pensamos e agimos apenas com modéstia, não há vida criativa. Qualquer grupo, sociedade, instituição ou organização que incentive as mulheres a desprezar o que for excêntrico; a suspeitar do for novo e incomum; a evitar o que for inovador, vital, veemente; a despersonalizar o que lhe for característico, estará à procura de uma cultura de mulheres mortas...
... No fundo da psique de muitas mulheres está a criadora visionária, a astuta reveladora da verdade, a vidente, a que pode falar bem de si mesma sem se censurar, que pode se encarar sem repulsa, que se esforça para aprimorar seu talento...que crie uma vida própria, uma vida feita à mão...
...É típico da psique ferida, assim como da cultura nas mesmas condições, não perceber a aflição pessoal do self...
...Quando o coletivo (sociedade) é hostil à vida natural da mulher, em vez de aceitar os rótulos pejorativos que lhe são aplicados, ela pode e deve resistir, agüentar e procurar aquilo a que ela pertence...

..Nos ainda temos o predador na nossa cultura, ele ainda tenta sabotar e destruir toda a conscientização e todas as tentativas de alcançar a totalidade...
...Tentar ser boa, disciplinada e submissa diante do perigo interno e externo, ou a fim de esconder uma situação critica psíquica ou no mundo objetivo, elimina a alma da mulher...
... As mulheres modernas passam pela mesma perturbação, a trivialização do que é anormal. Esse distúrbio está disseminado em todas as culturas. A trivialização do anormal faz com que o espírito, que em circunstâncias normais saltaria para corrigir a situação, afunde no tédio, na complacência...
... “O aprendizado da impotência”, que não só influência as mulheres a ficar com parceiros alcoólatras, patrões exploradores e grupos que se aproveitam dela... mas também faz com que elas se sintam incapazes de se erguer  para apoiar aquilo em  acreditam profundamente: sua arte, seu amor, seu estilo de vida, sua preferência política...
... Na psique instintiva, a Mulher Selvagem contempla do alto a floresta e vê nela um lar para si e para todos os seres humanos. Outros podem, porém, olhar a mesma floresta e imaginá-la sem nenhuma árvore, enquanto seus bolsos estão abarrotados de dinheiro...
...Podemos concluir que quando as mulheres não falam, quando é insuficiente o número de pessoas a falar, a voz da Mulher Selvagem se cala, e com isso, o mundo também se cala de tudo que é natural e selvagem. Acabam também se calando lobos, ursos e aves de rapina. Os cantos, danças e criações. O amar, consertar e manter. O ar, a água e as vozes da consciência...
...Quando os instintos estão feridos os seres humanos trivializam uma agressão após a outra, atos de injustiça e destruição que afetam a ela mesma, à sua prole, aos seres amados, à sua terra...

...A coragem significa seguir o coração...
... Podemos voltar à vida feita à mão, à vida plenamente atenta, podemos refazer os nossos próprios sapatos, caminhar nosso caminho, falar a nossa própria fala.”  (...)
Se você gostou desse post, também vai gostar de: http://mhcmc.blogspot.com/2011/10/afinal-quem-inventou-essa-historia-de.html

4 comentários:

  1. Há alguns aos atrás, bem uns seis, se não me engano, comecei a ler este livro e acredito que não estava numa fase interessante para compreende-lo.... Depois de ler este post me brotou a vontade de ler.. quem sabe agora terei a maturidade suficiente para tal?? Beijos
    www.jeitinhos.blogspot.com

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    1. Oi, acho que é uma questão de maturidade sim. Eu já achei que era um monte de blá blá blá da psicanálise, pesado e chato. Hoje, com as minhas vivências e entendimento do mundo, ele se tornou a coisa mais linda :) cada página de maneira mágica traduz o meu sentimento perante tudo e todos. E sinto muita sorte de não ter "perdido minha alma" no meio do caminho. bj

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  2. PRECISA ESTAR MADURA PARA LER UM LIVRO COMO ESTE - É SENSÍVEL E COM RAZÃO!

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    1. Obrigada por comentar. As vezes eu penso, que seria ótimo se esse nível de entendimento do mundo chegasse mais cedo na vida de todas as mulheres, talvez muitos estragos seriam evitados, a nós mesmas, as nossas filhas e ao mundo que nos cerca... Na verdade, como a Clarisse mesma diz, temos que preservar o instinto, o insight, o selvagem que existe em nossas crianças, ai não precisa de livros e nem de psicanálise para explicar aquilo que é preto no branco :)

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