domingo, 30 de outubro de 2011

Afinal, quem inventou essa história de parto deitada?

Durante grande parte da história da humanidade a mulher deu a luz acompanhada de outras mulheres (parteiras) de cócoras ou sentada.

Em 1513, o médico alemão Dr. Eucharius Rosslin publicou o primeiro manual sobre gravidez para o grande público, “The Rose Garden for Pregnant Women and Midwifves”. Dividido em 12 capítulos, o livro ensinava como a mulher deve se portar durante e depois da gravidez, como retirar um feto morto da barriga, como o bebê se apresenta no útero (acreditava-se que o esperma masculino continha uma miniatura humana e que o corpo da mulher era um mero recipiente para o desenvolvimento do bebe), entre outros tópicos. Ele foi campeão de vendas por mais de 200 anos e foi traduzido em 5 línguas. É isso que conta o livro “Get Me Out – A History of Childbrith”, da jornalista norte-americana Randi Hutter Epstein.

Infelizmente, um dos maiores feitos do livro foi difamar as parteiras e dar início ao domínio masculino na sala de parto, já que o negócio se mostrava lucrativo entre as classes mais abastadas. As parteiras passaram a ser consideradas incultas e negligentes. Mas, sua reputação foi totalmente jogada na lama com o advento de instrumentos obstétricos, como a fórceps, obviamente desenvolvida pelo ala masculina.

Fórceps

Durante três gerações, praticamente o mesmo período em que o primeiro manual dominou o mercado literário sobre gravidez, uma família de médicos, de origem francesa na Inglaterra, foram os responsáveis por inventarem e implantarem o fórceps. Alguns livros de história atribuem a invenção ao médico francês Francis Mauriceau, mas diz-se que na verdade os Chamberlens tentaram vender a invenção para Mauriceau, mas a demonstração foi um fiasco, o útero da paciente rasgou e mãe e bebê não sobreviveram.

A propaganda era de que com a ferramenta, que só eles possuiam e sabiam usar, era possivel dar a luz mais facilmente e com segurança. A realidade não era bem assim. Mas a propaganda era boa e todas as mulheres inglesas com cacife, exigiam um Chamberlens. E por duas gerações eles trabalharam para a família real inglesa.

A popularidade dos Chamberlens foi o suficiente para colocarem as parteiras de escanteio e ter o mercado do parto dominado pelos homens, considerados mais cultos e sábios, por toda a Europa. Assim açougueiros e pseudo-médicos entraram na dança. Era de se imaginar que para facilitar o seu trabalho eles foram os responsáveis por tirar a mulher da posição natural de cócoras ou sentada e a colocaram deitada, contra a gravidade. Segundo a etiqueta da epoca os homens-parteiros nao podiam ver as partes íntimas da mulher, então a maioria dos partos passou a ser realizado debaixo de panos ou até mesmo de olhos vendados. Vixe-Maria!

Durante esse período da história a inquisição estava em seu auge e consequentemente as parteiras também foram alvo fácil para as acusações de prática de bruxaria. E ai se alguma fatalidade ocorresse durante um parto. Assim, muitas parteiras foram parar na fogueira. Diz-se que muitas dessas inquisições foram incentivadas pelos “parteiros”, na ganância de dominar o negócio lucrativo.

Só em 1813, o segredo do fórceps dos Chamberlens foi descoberto com a morte de seu último dono. O instrumento consistia de duas rudimentares colheronas, que eram colocadas uma de cada vez dentro da vagina segurando a cabeça do bebê, que então era puxado para fora. E assim, um dos segredos médicos mais bem guardados da história foi revelado.

Desde a era dos Chamberlens, até os dias atuais, o uso do fórceps desperta controversias. Ele já salvou muitas vidas e tirou outras. Teve momentos da historia em que ele foi rechadado e momentos em que ele foi amplamente usado e requisitado. Mas uma coisa é certa, ele foi o grande responsável pelo início da mecanização do parto e das intervenções cirúrgicas.

No final do século 19, dar a luz em maternidades passou o a ser a norma. A mentalidade machista da época insistia em açoitar as parteiras e convencer as mulheres de que elas estariam melhores nas mãos dos hospitais dominados por doutores. Entretanto, foi nesse período que o número de casos de mortes durante o parto atingiu o seu pico e ter um filho era como uma roleta russa. A grande maioria das mortes se dava devido a infecções. Ainda não havia conhecimento dos germes e ninguém se preocupava em lavar as mãos nos hospitais. Hoje se sabe que as mulheres que permaneciam em casa na hora do parto, na companhia de uma parteira, tinham melhores chances de sobreviver.

No entanto, o vínculo de dar a luz e morrer tomou proporções assustadoras e transformou o ato natural do parto em um momento de apreensão e medo. A mulher deposita no outro, geralmente o médico, a responsabilidade do parto. Ela quer garantias e não quer sentir dor. E foi ai que ela perdeu sua força, seu instinto animal, seu momento de êxtase.

Fontes:
“Get Me Out – A History of Childbrith”, Randi Hutter Epstein.
http://amandagreavette.blogspot.com/ - artista plástica e autora da imagem ao lado.

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3 comentários:

  1. É lamentável... Se eu pudesse parir no lugar de cada mulher que abre mão desse seu direito por medo, falta de informação ou comodidade eu juro que o faria...
    Em meu blog relato minhas experiências com o nascimento de meus filhos e espero de alguma forma contribuir para que outras mulheres possam viver esse momento único e mágico também
    http://www.jeitinhos.blogspot.com/search/label/Parto

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