sábado, 12 de novembro de 2011

Desescolarização: educando para a vida

Recentemente participei de um encontro interessante. O encontro tratava de um tema pouco conhecido, mas muito inspirador, a desescolarização. A voz ativa era da “educadora” Ana Thomaz, que ao meu parecer é uma mulher daquelas que não tem medo que quebrar tabus e criar as suas próprias regras. De ser honesta consigo mesma. Uma mulher que está pouco se lixando para o que a vizinha vai pensar. E por isso mesmo, muito interessante. http://anathomaz.blogspot.com   

Fui para o encontro pensando que iria ouvir o depoimento de uma pessoa que educa os filhos em casa, conhecido como homeschooling. A primeira vez que ouvi falar nesse termo foi ainda na adolescência quando ouvia dizer que jovens artistas, por viverem na estrada, eram educados fora da escola. Também me lembro da família Schurmann, que deram a volta ao mundo em um barco. Eles também educavam os próprios filhos, boatschooling. 
Anos mais tarde, um amigo me mostrou um trabalho pessoal. Há alguns anos ele vinha fotografando as sobrinhas, que moravam no meio da floresta e eram educadas em casa. Lobinhas, com seus cabelos emaranhados, olhar penetrante, crianças em total sintonia com a natureza selvagem que habitavam. Logo depois, a palavra homeschooling passou a pipocar por todos os lados. Nos EUA, a prática é mais comum do que eu havia imaginado. E vêm de pessoas com estilos de vida variados, insatisfeitas com o sistema convencional de educação.
Confesso que sempre achei o homeschooling estranho, solitário. Sempre adorei ir à escola, principalmente por causa das amizades, da socialização, e nunca imaginei privar meus filhos desse acontecimento. E o tempo que meus filhos passam na escola é o meu tempo, essencial para a minha sanidade mental. Então, o meu interesse pelo assunto era mais curiosidade do que qualquer outra coisa. Porém, aquele encontrou foi extremamente revelador...
Desescolarização é diferente de homeschooling. É quebrar com os paradigmas criados no ambiente escolar, é criar uma nova realidade social. Como disse Ana Thomaz, "é tirar a escola de dentro da gente". E isso não significa necessariamente deixar de frequentar a escola. Já o homeschooling muitas vezes está atrelado a super valorização do conhecimento formal. Existem pais que querem criar super gênios e acreditam que a escola normal não é capaz disso com o seu nivelamento padrão. Levam a escola para dentro de casa.
Pois bem, com esse novo conceito de desescolarização, comecei a pensar no que realmente aprendemos na escola:
- Competição. A escola nos prepara para ser melhor do que o outro. Só assim você vai passar no vestibular, entrar nas melhores faculdades, conquistar os melhores empregos. Afinal, o mercado é muito competitivo. Valores como cooperação, solidariedade, compaixão ficam bem diluídos nesse contexto.
- Materialismo. Isso é algo que minha filha é vítima e se tornou ainda mais evidente com o ingresso na escola do meu filho de 2 anos. Noto que a maneira de saldar as crianças e deixá-las satisfeitas por parte dos adultos é mencionar o sapato novo que ela está usando, que mochila bonita ela tem. Raramente alguém diz: que sorriso bonito! O que será que a gente vai aprender?E assim elas aprendem que o que vestem é o que interessa.  Sempre que interajo com crianças e elas querem chamar a minha atenção, mostram algo que possuem, uma blusa nova, uma pulseira... Um que legal! As satisfazem. Eu sei que os adultos não têm muita paciência, nem tempo, para ouvir uma historia mirabolante do dinossauro que caiu do barco e foi comido pelo tubarão que ficou com dor de barriga. Esse tipo de relato recebe um espera um pouco, estou ocupado... Para essas crianças, ter é ser. E se você já não aprendeu isso em casa, vai aprender na escola.
- Autoritarismo. Não pode isso, não pode aquilo. Ouve-se tantos nãos na escola, que fica difícil imaginar uma criança ser capaz de usar sua imaginação, criatividade e energia de maneira positiva. Outro dia mesmo ouvi um coordenador da escola da minha filha gritando para as crianças que não podiam correr no pátio. Se não podem correr no pátio, vão correr aonde? Criança não pode mais correr? Também já escutei que não era permitido brincar de golzinho com tampinha plástica de refrigerante. Por que não? Só porque não é bola. A meu ver, aqueles meninos deviam receber um parabéns pela criatividade.
- Convencionalismo. É o dever da escola estabelecer normas e padrões. E isso se reflete em todas as áreas, do comportamento ao pensamento. Dificilmente uma criança é elogiada por contestar uma regra incoerente, ter seu ponto de vista diferente, ou até mesmo executar algo de outro modo. Saiu fora da caixinha vai com certeza vai receber a antipatia ou será apatia alheia. Nunca me esqueço de quando meu sobrinho teve que criar um jornalzinho sobre um animal em extinção na terceira série. A palavra jornalzinho fez com que ele recorresse à tia jornalista por auxílio. Fizemos um zine, tinha a matéria principal sobre o lobo-guará com título e subtítulo, imagens e notinhas de outros animais também em extinção, tinha até passatempo.  Ele pesquisou e participou de todo processo, eu só orientei explicando a dinâmica de um jornal. O que havia sido um momento de aprendizado e união para nós, se transformou em frustração e raiva, quando ele voltou da escola com a cara amarrada dizendo que a professora falou que o trabalho dele estava errado, que era só para ter feito uma pesquisa sobre um único animal e colocado título. Ela nem folheou o zine. Obviamente ele não permaneceu naquela escola privada e tradicional por muito mais tempo.
- Popularidade.  Ser popular ou não. Nesse quesito está fadado a autoestima, o emocional e a vida afetiva de inúmeras crianças e adolescentes. É popular aquele que consegue o equilíbrio entre os outros itens acima. Não pode tirar só 10, porque vira nerd, nem ir tão mal porque é burro. Se ostentar é playboy, se não tem, não tem muito a oferecer. Se aceita todas as regras é banana, se contesta é persona non grata e por ai vai. O bullying palavra tão em voga na mídia hoje, é exatamente o reflexo disso.
Ana Thomaz, com o relato de suas experiências, nos faz refletir, não é panfletária. Almeja que seus filhos aflorem de verdade, com liberdade. Como toda mãe, quer o bem estar das crias e para isso teve a coragem de retirar a escola de suas vidas, quebrar paradigmas e condutas sociais.
E agora, será que agora eu vou ter que tirar meus filhos da escola? No meu caso, eu ainda acho que não, ainda vou fazer a lista das coisas positivas que se aprende na escola, será que vou conseguir? Aguardem. Mas com certeza não vou analisar como a escolarização afeta a minha vida. Vou prestar mais atenção no desenvolvimento emocional dos meus filhos. Vou sempre incentivar o pluralismo, a criatividade. Vou ensinar o uso prático da matemática, do português e da química. Vou me envolver. Não é porque estou pagando que vou simplesmente deixar a educação deles nas mãos de uma instituição. Valores se aprendem em casa.    
Se você gostou desse post, você também vai gostar de: http://mhcmc.blogspot.com/2011/10/conecte-seus-filhos.html

8 comentários:

  1. Eu acho que faltou dizer que a escola rouba o corpo, a criança que tem o corpo perfeito, com o passar do tempo em cadeiras duras sendo obrigadas a ficar na mesma posição perde a atividade e o poder sobre o próprio corpo. A descolarização não está totalmente ligada a tirar da escola, vc pode se descolarizar com seus filhos na escola. Procure tbm por unschooling é isso que praticamos tbm:)

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  2. Ju, vc me surpreende a cada post, o que posso dizer? obrigada! me identifiquei demais!! e já vou entrar no blog da Ana Thomaz para saber mais!!

    bjo querida!
    Lia

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  3. Muito bom Tius! Que orgulho de voce amiga!! Os valores que os pais passam pros filhos é o que mais importa em todo esse processo. O resto é experiencia.
    Nao ha escola perfeita, todas tem os seus problemas. O importante é sempre conversar, dividir as insatisfacoes e cobrar um melhor posicionamento do professor e da escola. Assim se constroi, se recicla, se compartilha.

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  4. muito bom seu blog!
    tem conteúdos super interessantes!

    beijos

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  5. Meninas, obrigada pelas mensagens. Caroliny, o lance do corpo não entrou na minha análise porque eu não nunca havia pensado nisso, mas estou pensando agora e você tem toda razão. Adoro quando novas luzinhas se ascendem!Obrigada pelo toque.Também queria deixar claro que as palavras (reflexão) sobre a escola são minhas, uma novata no conceito, e não da Ana Thomaz. bjs

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  6. Adorei o post! Ana Thomaz nos visitou aqui em Floripa no ano passado para transformar as cabeças! Foi muito bom. Temos um blog sobre o tema educação e desescolarização, http://www.vivendo-e-aprendendo.com/

    abraços, Tamara

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  7. Olá Jú gostei muito de suas reflexões e buscarei ter acesso a mais desse conteúdo. luz e paz eu sou Mônica - mãe da Esther

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  8. so li hoje mas adorei continue assim bjss

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