A semente do conteúdo do MHCMC foi plantada em no verão de 2009, quando grávida de 4 meses do meu segundo filho, fui passar as férias no litoral paulista. Entre as revistas do mês, a Superinteresante alertava para “O Fim dos Oceanos”. Em algum outro artigo, a Monsanto, corporação norte-americana responsável pela produção de agrotóxicos, hormônios sintéticos e sementes geneticamente modificadas (transgênicas), comemorava a alarmante estatística de controlar 90% das safras de soja e milho nos EUA. Ansiosa por um momento de comunhão com a natureza fui caminhar na praia...
Choque. Nunca fui contra vendedores ambulantes, nem barracas de praia, afinal todo mundo tem direito ao seu ganha-pão, e quem não adora uma água de coco. Mas aquilo havia tomado proporções catastróficas. Aquela praia, relativamente tranqüila, havia se tornado o palco do nonsense em que vivemos. Entre centenas de guarda-sóis e bolas perdidas de frescobal lá fui eu e a cada passo meu coração se enchia de tristeza. Chorar foi inevitável.
Inconformada, observei um novo fenômeno de se comer milho-verde solto em pratinhos de isopor com colher plástica. Como alguém em sã consciência pode trocar a boa e velha espiga de milho, ecologicamente alojada em sua palha, por um prato de isopor? A fila era longa, mas ninguém se importava em recusar os novos utensílios apresentados pelo vendedor orgulhoso com o upgrade no serviço, muito menos questionar a perda de tempo de se debulhar o milho. Inconscientes e enfileirados, para todos ali presentes o aumento do preço fazia sentido.
Com o final da tarde chegando e a maré subindo, cada onda engolia dezenas, se não centenas, de canudinhos, copos plásticos, garrafinhas e latas de refrigerante. A minha vontade era de gritar: acordem, por favor! Mas tudo parecia tão normal, como se o cheiro de protetor solar tivesse deixado o povo em estado de estupor e a praia fudida.
Minha reação foi ir pegando o lixo que passava pela minha frente ou, dependendo da onda, grudava na minha perna. Não sei se fui capaz de despertar a compaixão em algum banhista, mas com certeza chamei a atenção de alguns segurando tanto lixo. E assim, todos os dias daquela minha semana de praia, religiosamente caminhava, catava lixo e desejava ter um amigo polvo para me ajudar nessa santa tarefa.
E o que essa história tem a ver com maternidade? Bem, para mim foi a gota d`água, foi o momento em que decidi que se eu quisesse que meus filhos tivessem um futuro, o comportamento humano teria que mudar, a começar por mim mesma. Foi quando decidi que as inúmeras conveniências desnecessárias que nos empurram e passamos a almejar deveriam ser abolidas. Meus olhos se abriram para mundo de anomalias. A maior delas: a desconexão do ser humano com a natureza. E é por isso que escrevo.
Obs.: Nos últimos 3 anos a grande maioria da nossa água de coco passou a ser comercializada em garrafas plásticas e caixinhas. O rio de minha infância teve a maior mortandade de peixes da sua história devido à poluição. E o Brasil já alcançou o patamar americano em plantações de soja e milho transgênicos. E é assim que infelizmente tem caminhado a humanidade... 14/09/2011